6th March 2006
O bem-sucedido e arrojado Eddie Hodge fala sobre o novo conceito de desbaste de baixo impacto da Williston Timber e explica por que um dia ele e seus irmãos decidiram comprar um protótipo de máquina desconhecido de um bando de canadenses.
— Paul Iarocci
Em 1992, estacionado em uma rodovia no norte da Flórida, estava um caminhão Mack transportando um feller buncher com uma aparência estranha. Dois homens estavam munidos com um kit de punção e molde e um martelo de bola: o caminhoneiro Don Snively e o comerciante Jim Wood. Os dois trabalhavam para a MacDonald Steel, uma fábrica de Cambridge, Ontário.
Os números de série e a documentação eram pequenos detalhes nos quais ninguém pensava, diante da pressa de fabricar o protótipo do feller buncher 726 Tigercat. Até que a hipótese de ir para a cadeia surgiu.
Na hora de criar o protótipo do Tigercat 726, em 1992, Wood era a escolha óbvia. Como eletricista, mecânico industrial e mecânico automotivo licenciado, Wood tinha as competências e o talento para lidar com as complicações e incertezas que acompanhavam a montagem de uma nova máquina nos fundos de uma fábrica de aço (quando o cronograma de montagem subiu de 1 para 30 por ano, Wood treinou Tim Koniuch, Curt Martin, Stewart Maurer, Ross MacDonald e Denton Rerrie). A Tigercat também teve a sorte de contratar o montador Larry Almond, que tinha muita experiência técnica em construção e com máquinas florestais.
O tempo passava e Tony Iarocci, presidente da Tigercat, questionava Woods sobre o status da máquina. “Podemos enviá-la agora ou aguardar mais três semanas”. Tony disse: “Enviem-na amanhã”. As baterias estavam amarradas com cordas ao painel protetor do cárter.
Snively carregou a máquina no antigo caminhão Mack rumo à Expo Southeast, em Tifton, Geórgia, e Wood o acompanhou de picape. Os dois trabalhavam na máquina nas paradas feitas durante a viagem. Quando chegaram à Geórgia, ela estava relativamente pronta. Após a exposição, os dois homens, muitas vezes acompanhados por Iarocci e Ken MacDonald, proprietário da empresa, viajaram pelo sudeste com a máquina.
Em 1992, a Willston Timber era um grande cliente da Deere. Lembrando a Expo Southeast e os representantes da Deere que os levaram, Eddit Hodge, coproprietário da Williston Timber, disse: “Eles nos apressavam pela exposição para nos levarem até as máquinas e nós queríamos parar para ver esta nova Tigercat. A porcaria do motor foi girado para o lado errado… Além disso, tinha um nome marcante”.
Pouco depois da exposição, Eddie e o seu operador viajaram para Louisiana, onde a máquina estava sendo demonstrada, e se encontraram com Iarocci, MacDonald, Snively e Wood. Já não sobravam muitas árvores no local, mas eles foram em frente. “Cortamos alguns tocos, conduzimos a máquina por algumas colinas e encontramos algumas árvores em pé”, explica Eddie. Então, ele propôs a avaliação de um mês.
Eddie lembra que disse para o Tony: “Se você quiser, pode trazer essa coisa para a Flórida. Não sabemos nada sobre ela, por isso você vai ter que deixá-la sob a responsabilidade do mecânico. Se a máquina funcionar durante um mês, vamos comprá-la”. Era esse o acordo. Ela não tinha sequer um número de série. Don é parado pelo Departamento dos Transportes da Flórida. Eles estavam ligando para a gente. Ele ligou para o Canadá e esteve fora durante cerca de metade de um dia. Em geral, é dessa forma que se transporta equipamento roubado, com a remoção do número de série… Eles são do Canadá. Não têm nenhum documento. Eles têm um caminhão com cabine estendida. E tudo o que queriam era se livrar dessa coisa e ir para casa”. Snively deixou a máquina com Hodges e voltou para casa. Ele tinha ficado ausente por um total de 40 dias.
Com base na Williston Flórida, Eddie, Johnny e Billy Hodge trabalharam muito durante 25 anos para levar a Williston Timber onde ela está hoje. Eles recorreram aos pontos fortes de cada um. Eddie era o executivo. Johnny, um engenheiro mecânico autodidata e inventor de equipamentos florestais. Sobre o irmão mais novo, Eddie diz: “o Billy está em campo, com a mão na massa.” Juntos, os três irmãos mantiveram as operações firme. Johnny morreu tragicamente em um acidente. “No dia 5 de outubro de 2003, fomos afetados por uma tragédia: perdemos Johnny em um acidente de caminhão terrível.” Eddie conta: “Perdemos mais que um irmão. Perdemos uma pessoa que amávamos, nosso melhor amigo. A morte de Johnny atingiu em cheio os negócios.”
Para fins de registro, o primeiro número de série foi 726001 e impediu que Snively e Wood tivessem mais problemas com a lei. Para sanar dúvidas potenciais sobre a compra de um protótipo, o número de série foi alterado para 7260101. “Como se tivéssemos 101 deles” brinca Eddie. “Quando o trator 101 veio, parecia que a feira do condado tinha começado na cidade. Todo madeireiro do centro da Flórida veio para cá. Alguns já tinha visto na feira, mas o boca a boca foi rápido. Eles ficavam lá fora observando a máquina, queriam chegar perto.”
“Eu me lembro bem”, interrompe Wood. “No domingo, eu estava lá fora vendo o óleo e a graxa, e uns dez homens tinham vindo ver a máquina… em pleno domingo.”
Como parte do acordo, Wood ficou com a máquina. “O Jim tinha o trabalho mais chato do mundo”, relembra Eddie. A máquina era operada dia após dia, sem nenhum problema. “Ele acompanhou no caminhão de apoio sem ar condicionado, durante três semanas. O trator nunca parou de funcionar. Ele ainda está aqui, no fim de semana, e não tem nada para fazer. Passaram-se três semanas e não tivemos nenhum problema. Há dois meses que ele não vai para casa. Conversei com Don e Tony, falei que ele precisava ir para casa.”
Esse foi o começo de uma relação que dura 14 anos. Além de comprar o primeiro modelo do feller buncher (o 720), a Williston Timber comprou também o segundo, o feller buncher de esteira 845. Ao longo dos anos, eles tiveram pelo menos 17 Tigercats, somando dezenas de milhares de horas com todos eles.
Apesar do bom desempenho da máquina no primeiro mês, a compra dela foi um grande risco para a Williston Timber. Na época, a Tigercat não tinha rede de distribuidores. As peças tinham que ser pedidas direto do Canadá. Eddie e Johnny não tinham ideia se uma segunda máquina sequer seria construída.
Mas, de alguma forma, essas circunstâncias não intimidavam os irmãos. “A Tigercat sempre tinha uma solução. Assim como nós. Se alguém nos diz que uma ideia não vai funcionar, sabemos que estamos no caminho certo, explica Eddie. Além disso, os irmãos Hodge gostavam do fato de a Tigercat ser pequena e estar começando. Para eles, a empresa nova tinha vantagens exclusivas. A diretoria era acessível, sempre disposta a ouvir o usuário final. Eddie lembra que Ken MacDonald já enviou peças a ele em seu avião particular e que Iarocci sempre ligava para ele, além de ter levado o projeto do novo feller buncher de desbaste 720 para receber sua opinião.
Butch Garvin, que operava o trator 101, comenta: “Aquela máquina cortava 36 cargas por dia, no primeiro ano. Trocamos um anel O-ring e nenhuma mangueira”. Eddie explica que, para chegar à produção, a máquina cortaria 30 cargas durante o dia e mais seis à noite.
Depois, ele faz um rápido cálculo do que a máquina produziu em sua vida útil. Eddie gosta de guardar registros e me garantiu que pode provar que a máquina cortou entre 2.720 e 3.175 toneladas por semana entre 1992 e 2005. Sua estimativa conservadora é de algo entre 1,36 a 1,8 milhão de toneladas de madeira.
A Tigercat pegou a máquina de volta depois de um ano e meio para avaliar seu desgaste. Enquanto isso, a Williston ficou usando apenas uma. “Operamos a máquina de 1992 a 2005 direto com uma equipe. Nunca tivemos uma máquina que pudesse cortar tantos tamanhos de madeira diferentes”.
“A parte hidráulica era excelente. Nós quase destruímos as dobradiças da porta traseira, de tanto mostrar para as pessoas o quanto a hidráulica era boa. Sempre podíamos tocar nas bombas e mangueiras. Se não há calor, não há nenhum desgaste, pois isso quer dizer que não houve fricção. Isso é senso comum.”
Antes da morte de Johnny, os irmãos decidiram vender duas das cinco máquinas para funcionários antigos, embora eles ainda operassem sob o nome da Williston Timber. Estávamos ficando muito enxutos e queríamos ajudá-los a dar sentido a elas”, explica Eddie.
As três máquinas restantes empregam 40 pessoas, 14 delas da família Hodge. Os outros negócios dos Hodges incluem uma fazenda de produção de grama, uma serralheria para produção de cama de cavalos, uma mina de areia e uma equipe de preparação de local que pode dobrar de tamanho em períodos de necessidade.
Eddie tem um carinho especial pela serralheria, que foi montada por Johnny inicialmente como um hobby. Eddie admite que, durante a construção da serralheria, ele fazia visitas esporádicas, mas tentava deixar o caminho livre para Johnny. Johnny era tecnicamente brilhante e Eddie ficava impressionado com sua capacidade de entender o funcionamento de praticamente todas as coisas. Atualmente, a serralheria tem 15 funcionários e costuma operar ininterruptamente, sete dias por semana, para suprir as camas de alta qualidade fornecidos para fazendas e lojas de alimentos de animais.
As equipes de preparação do local e de lenhadores trabalham principalmente para Plum Creek, que comprou a Georgia Pacific. A relação da Williston com a GP e a Plum Creek se estendeu por 25 anos. Em 1998, os irmãos usaram seus equipamentos de preparação de local para ajudar a combater um incêndio devastador, trabalhando 28 dias seguidos. Eles dormiam apenas algumas horas por noite, depois dos dias exaustivos de trabalho.
O fogo danificou muito os pântanos da Flórida. A Williston Timber também se envolveu no trabalho de recuperação da natureza, o que incentivou novos crescimentos e revitalizou a região. A experiência fez com que Eddie e Johnny obtivesse uma certificação do governo para operar em desastres e nos trabalhos de limpeza em casos de furacões, incêndios e outras calamidades.
O conceito mais novo da Williston é a equipe de desbaste de baixo impacto. A ideia surgiu diante da realidade do mercado madeireiro na Flórida. A Flórida tem muita terra que requer o primeiro desbaste. Nos últimos anos, os índices pluviométricos do “estado ensolarado” ficaram acima da média. Os feller bunchers e skidders convencionais não conseguem operar em locais de desbaste quando o solo ainda está molhado. Por conta disso, as chuvas podem provocar interrupções ou fazer com que as equipes tenham que procurar locais mais altos e secos. As duas situações afetam a produção do contratado e, por consequência, a dos moinhos.
A ideia de Hodge foi adaptar uma das máquinas que atuam no pântano madeireiro para realizar a tarefa mais delicada de desbaste da plantação de pinheiros. Especialistas do setor diziam que a ideia não ia funcionar. Era o incentivo que Hodge precisava para correr atrás dela.
Em qualquer aplicação de desbaste, é importante considerar a remoção da quantidade e do tipo certo de árvores da plataforma, impedir a criação de sulcos, o que danificaria o solo, e evitar danos às cascas das árvores que permaneçam no local. O objetivo geral é minimizar o choque para a vegetação que fica e promover um crescimento saudável. Os primeiros pinheiros desbastados têm de 15 a 17 anos, e as fileiras entre eles têm espaçamento de 3,65 metros. De 35% a 40% são removidos e usados para pasta ou serra de madeira.
A equipe tem trabalhado com sucesso há dois meses. Ela utiliza quatro Tigercats: Um feller buncher 845 com esteiras de garras triplas de 915 mm, um skidder 620 com pneus de flutuação não agressivos de 1.780 mm, uma carregadeira 235 montada em subestrutura e uma carregadeira de esteiras T240. Cada máquina tem pelo menos 14.000 horas de operação.
O 845, que completou 15.000 horas com o mesmo operador (Hodge gosta que um operador trabalhe na mesma máquina por longos períodos), corta a quinta fileira e depois arranca as árvores da primeira e da segunda fileiras de cada lado usando o alcance da lança para chegar à segunda fileira com o mínimo de rastreio e sem afetar o solo, as folhas e as árvores que permanecem no local. Com uma largura de 4,9 m, o 620 opera facilmente nos corredores de 7,3 m onde o 845 deixa os feixes. A média de distância dos skidders é de 400 a 800 metros. Hodge avalia que sejam necessários de dois a três plataformas para desbastar 50 hectares.
Phil Parker, gerente de recursos da Plum Creek para a Flórida, gosta do sistema de desbaste de baixo impacto, pois ele é mais versátil em termos de quando e onde pode ser operado. Ele amplia as possibilidades e oferece um fluxo de madeiras mais constante, mas Parker enfatiza que a operação deve ser conjunta. “É um sistema mais caro, portanto precisa ser comprado pelos donos das terras”, explica. “Outra vantagem é a possibilidade de usar o mesmo sistema com ciprestes.”
Segundo Hodges, a equipe foi capaz de operar depois de 125 milímetros de chuva. Na noite anterior à nossa visita ao local do trabalho, tivemos 25 milímetros de chuva, mas nenhuma evidência de danos no solo da plataforma.
Com o sistema de três máquinas, os operadores estão produzindo doze cargas por dia, o que significa 1.360 toneladas por semana. Hodge espera aumentar esse número para 16 cargas e 1.800 toneladas com a adição de outro modelo 620 e do “trator 101”. O buncher de 30.000 horas vai cortar os corredores quando o clima permitir, abrindo caminho para o 845 desbastar as fileiras adjacentes.
Enquanto Eddie analisa um terreno de pinheiros recém-desbastado que praticamente não aparenta ter sido tocado por equipamentos de colheita mecânica, ele me diz: “Estamos tentando deixar um legado aqui. O Johnny era a melhor pessoa do mundo. Temos a responsabilidade de levar as qualidades e a determinação dele adiante. A melhor pessoa do mundo.”